Pixo “arte”


943092_391226237652769_348591637_nO grafite precisa da rua para existir e se valer em sua proposta, o pixo não só tem esses preceitos como também rejeita o reconhecimento da sociedade – e isso deveria anular qualquer forma “oficial” de pixação. Você não entende o que eles escrevem nos muros? Não é mesmo pra entender, é só pra eles se entenderem.
Por: Diogo Ruic

O “arte” é com as aspas, por enquanto. Chega ser arriscado palpitar sobre isso. Mas vamos lá. Em 2008 a Bienal chamou a atenção pelo seu vazio em um dos andares, mas também pela invasão de pixadores que “vandalizaram” o lugar.
Na verdade, dentro ou fora da Bienal, o alvo desse movimento é sempre o vazio, a parede branca, a ausência. Essa é a busca. Não sou um especialista desse universo, mas é visível em qualquer rua de São Paulo – talvez o lugar do mundo onde esse grupo se faz mais presente – que se trata de uma forma de expressão e manifestação social para um grupo que se considera sem voz – se é legitima, de qualidade ou não, é outro papo.
Bienal
Pois é, dois anos depois, quem diria, a nova curadoria anunciou que convidou alguns deles para participar do evento, desta vez com crachá de artista e entrada livre pela porta da frente. E eles vão participar. Logo de cara, é um reconhecimento de que de fato é um movimento. E não é só lá no Ibirapuera, alguns já foram mostrar seus rabiscos na França.
Estariam seguindo o mesmo caminho de reconhecimento do grafite? Não tenho a resposta. Mas o que se pode afirmar é que, enquanto o grafite precisa da rua para existir e se valer em sua proposta, o pixo não só tem esses preceitos como também rejeita o reconhecimento da sociedade – e isso deveria anular qualquer forma “oficial” de pixação. Você não entende o que eles escrevem nos muros? Não é mesmo pra entender, é só pra eles se entenderem.
bienal19
Mesmo assim, sua entrada em uma Bienal o valida como movimento, torna-se um momento de diálogo com a sociedade. Tudo isso mostra que, se por uma lado é uma demonstração de abertura para outras formas de pensar da Bienal – o que reflete na forma como vemos e fazemos arte no país -, por outro sua legitimação e aceitação como movimento pode ser o início do seu fim enquanto contestação. A partir do momento em que for aceito, deixa de ser “anarquia”, uma provocação à sociedade e às leis e costumes que a regem.
Por isso, não é pra gostar que a pixação vai ter espaço na Bienal, é só pra compreender os motivos pelos quais ela estará lá e pensar a respeito.
Não acha?
Diogo Ruic é jornalista e editor assistente do Nota de Rodapé
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