Livreiro do Alemão cria "barracoteca" na favela

Enquanto traficantes do Comando Vermelho em fuga trocavam tiros com a polícia e soldados do Exército durante a ocupação dos complexos da Penha e do Alemão, em novembro de 2010, Otávio Júnior, 27, escrevia.
Sem poder sair de casa, finalizava "O Livreiro do Alemão" --seu ingresso no mundo dos escritores-- e preparava-se para instalar a primeira biblioteca do conjunto de 13 favelas na zona norte do Rio com quase 400 mil pessoas.
"Quando os confrontos eram muito acirrados, eu produzia muito. Escrevia enquanto as balas "comiam" para cima e pra baixo."
Otávio Júnior criou a "Barracoteca Hans Christian Andersen"; no ensino médio, ele matava aula para ir à biblioteca

Biblioteca? Na verdade, trata-se da "Barracoteca Hans Christian Andersen" -corrige Otávio. O nome é uma homenagem ao escritor dinamarquês autor de contos como "A Pequena Sereia" e "A Roupa Nova do Rei".
O local --um antigo salão de forró-- no morro do Caracol, Complexo da Penha, funciona desde maio e será inaugurado oficialmente em 22 de agosto, dia do Folclore.
Parte dos livros é doação do Ministério da Cultura, o resto foi amealhado por Otávio durante os dez anos em que andou por todo o Complexo da Penha e do Alemão, com uma mala na mão, oferecendo livros emprestados aos moradores.
O investimento foi de R$ 7.000. Como não tinha nem a décima parte desse valor, a solução foi apelar a conhecidos e desconhecidos. "Passei o chapéu, mas passei o chapéu virtual", diz.
No blog Ler é 10 - Leia Favela (leredezleiafavela.blogspot.com), o jovem anunciou a barracoteca. Em três meses reuniu a quantia necessária.
Filho de pedreiro, chamou o pai para reformar o local.
Otávio narra em "O Livreiro do Alemão" (Panda Books) como seu amor à literatura se deu quase por acaso. Aos oito anos, saía de casa todo dia para ver as peladas no campo de terra da comunidade.
"Naquele dia, passei em frente a um lixão e havia uma caixa com brinquedos velhos e um livro", conta. "À tarde faltou luz e como não podíamos assistir a televisão preto e branco, lembrei do livro."
IMPACTO
O "impacto da literatura" mudou a vida do menino. A paixão cresceu a ponto de, no ensino médio, desenvolver um hábito: matar aula, tomar um ônibus, andar 20 km e ir para a biblioteca do Museu da República, no centro. "Chegava a ler dez livros por dia."
Era então um tempo difícil. A família enfrentava o alcoolismo do pai de Otávio.
"Minha mãe ficou louca quando descobriu. Porém, sabia que eu matava aula mas estava bem acompanhado."

EMILIO SANT'ANNA
DE SÃO PAULO
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Grafite: O Metal Como Tela.




Eus-R*

É de Santa Luzia, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte-MG.
Seu nome é Helbert Lourdes de Oliveira, o gênio criativo que paredes de oficinas e lojas de auto peças, que não raro, recorrem aos Artistas do Grafite para melhorar o visual do estabelecimento assina seus trabalhos como RONDAS.
A ligação entre automóveis e o Grafite fica clara em.
O elo entre a Arte do Grafite e o metal vai muito além. Com 22 anos, Helbert-Rondas diz que pinta desde os 18 anos, mas que começou a desenhar ao 13 anos. “Tudo que eu via era referencia e desenhava em qualquer lugar. Podia ser uma folha pautada de caderno ou em papel de pão”. O que seria limitação se transformou em liberdade. “Nunca fiquei preso a um tipo de suporte”, na linguagem artística, nada mais é do que o material no qual será feito a Arte do Grafite.
 Quem descobriu o talento de Helbert-Rondas foi Alessandro Ramos, gerente da Recreio BH, que procurava um artista para fazer esse trabalho. “Na mesma hora vi que ele era diferente”, lembra.
Veio em boa hora “eu já estava desistindo da Arte do Grafite quando tudo aconteceu”, comenta Helbert.
 O resultado deste belo trabalho gerou um acervo de 13 peças mesclando componentes de automóveis e a Arte do Grafite que será exposto de 01 a 15 de Agosto de 2011 no Centro Cultural da Concessionária Volkswagen Recreio, e que depois vai ser exposto nas outras 56 lojas da Rede do Grupo Líder.

Serviço:
Espaço Cultural Recreio-BH
Av. Barão Homem de Melo nº 3.535
Bairro Estoril-BH
Informações (31) 3319-9000
Entrada Franca

Força e Paz!

Eus-R*


Ps: Não acredite em tudo que escrevo, busque outras fontes de informação e provoque o dialogo em sua comunidade. Não sou e nem quero ser o dono da verdade. Um abraço a todos.
 

 

 











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Combate à violência contra a juventude negra e de redução da letalidade nas operações realizadas pelos profissionais de segurança pública e privada


- Dados extraídos do Mapa da Violência 2011, Os Jovens do Brasil (Julio Jacobo Waiselfisz) revelam que, no total da população, o número de vítimas de homicídios de cor ou raça branca diminuiu em 22,3%, entre 2002 e 2008. Entre os negros (pretos e pardos), o percentual de vítimas de homicídio cresceu em 20,2%, no mesmo período.
- Em 2002, foram vítimas de homicídios, proporcionalmente, 45,6% mais negros do que brancos. Em 2005, pelo mesmo motivo, morreram 80,7% mais negros que brancos e, em 2008, morreram 111,2% mais negros que brancos. O Estado do Paraná foi a única unidade da Federação em que houve mais homicídios contra brancos do que contra negros.
- Entre os jovens (de 15 a 25 anos), os números revelam que a vitimização negra é ainda mais intensa do que no total da população. Entre 2002 e 2008, os homicídios contra os jovens brancos caiu em 30%. Já entre os jovens negros, os homicídios cresceram em 13%. As taxas de homicídios contra brancos caíram de 39,3 (2002) para 30,2 (2008), enquanto as taxas de homicídios contra negros cresceram de 13,2%, no mesmo intervalo. Assim, em 2002, morreram, proporcionalmente, 58,8% mais negros do que brancos e, em 2008, esta proporção passou para 134,2%.
- Entre cem países que disponibilizam dados, o Brasil ocupa um constrangedor sexto lugar no índice de 52,9 homicídios entre cada grupo de 100 mil jovens. Dez anos antes, este índice era de 47,7. Com índices maiores do que o do Brasil, em 2008, há apenas El Salvador, Ilhas Virgens (EUA), Venezuela, Colômbia e Guatemala, nesta sequência. Na América Latina, Cuba ostenta o índice mais favorável, com 6,7.
- Em junho deste ano, o Conselho Nacional de Segurança Pública (CNSP), reconhecendo o crescente número de homicídios de jovens negros, "como resultado do racismo histórico a que a sociedade brasileira infligiu a este grupo étnico", editou a Recomendação 003, dirigida ao Ministério da Justiça, à Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, à Secretaria Nacional de Juventude, à Secretaria Nacional de Direitos Humanos e à Secretaria de Políticas para as Mulheres.
- Algumas das observações então recomendadas pelo CNSP referem-se à necessidade de garantir o desenvolvimento de ações sociais e a liberdade de expressão da juventude negra residente em comunidades onde estão sendo implementadas políticas como a das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), do Rio de Janeiro.
- A Recomendação 003 deu prazo de 30 dias, para a instituição da agenda com soluções e definição de responsabilidades setoriais, no combate à violência contra a juventude negra e de redução da letalidade nas operações realizadas pelos profissionais de segurança pública e privada, desenvolvidas tradicionalmente nos territórios pobres e de maioria negra.
- Outras recomendações referem-se à necessidade de que a polícia desenvolva suas ações de maneira compatível com os princípios do Estado Democrático de Direito, primando pela preservação da vida e respeitando o devido processo legal. Referem-se também à necessidade de combater a impunidade dos homicídios de jovens negros, através do fortalecimento da Perícia Criminal, e à necessidade de realização de ações de combate ao racismo institucional no âmbito das instituições de segurança pública.
- A agenda conjunta com soluções e definição de responsabilidades, recomendada pelo CNSP, que deveria estar pronta até o dia 9 de julho, chegará tarde, porém.
- Antes das soluções, no dia 20 de junho, o menino Juan Moraes, de 11 anos, no território pobre e de maioria negra do Danon, em Nova Iguaçu (RJ), foi atingido mortalmente por balas de fuzil, que teriam sido disparadas por um policial militar, sargento, com o retrospecto de 13 mortes, secundado por outro policial, cabo, com retrospecto de oito mortes, chamadas na linguagem oficial de "auto de resistência".
- Na mesma operação, foi morto o jovem negro Igor de Souza, 17 anos, apontado pelos policiais como traficante, e baleados os jovens negros Wesley, de 14 anos, irmão de Juan Moraes, e Wanderson de Assis, de 19 anos. Em hesitante processo legal, a perícia criminal tornou-se objeto de inquérito, por confundir o corpo do menino com o de uma menina, e o delegado responsável exonerado.
- Recomendação CNSP 003, de 9 de junho, 11 dias antes da tragédia: profecia ou destino?
Fonte: Monitor Mercantil
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Quilombos - Carta-Denúncia de Diogo Cabral, advogado da Pastoral da Terra do Maranhão

Hoje, eu, advogado da CPT Maranhao e padre Inaldo Serejo, estivemos no município de Cantanhede, Maranhao, aproximadamente 200 km de Sao Luis, para realização de audiência preliminar do processo de n 3432010, onde os autores sao trabalhadores rurais quilombolas do quilombo de Salgado, município de Pirapemas e os réus, latifundiários da região, cujos nomes sao Ivanilson Pontes de Araujo, Edmilson Pontes de Araujo e Moisés Sotero. Estes homens perseguem os trabalhadores quilombolas desde 1981, e ano passado ingressaram com ação de manutenção de posse conta estes fazendeiros, pois os mesmo destruiram roças, mataram animais, areas de reserva, cercaram os acessos as fontes de água, alem de ameaçarem se morte os trabalhadores.
Em 7 de outubro de 2010, após audiência de justificação previa, foi concedida manutenção de posse em favor dos quilombolas numa area de 1089 hectares.Ainda assim, os réus continuaram a turbar a posse dos trabalhadores, realizando incêndios criminosos, matando pequenos animais, abrindo picadas na floresta, etc... Nao satisfeitos, com a mudança de juiz da comarca e com a entrada de um novo, por nome Frederico Feitosa, os fazendeiros ingressaram com uma ação de reintegração de posse contra as famílias, que foi deferida em 24 minutos, inaudita altera pars, no dia 6 de julho.
Eu tive ciência da ação no momento em que pesquisa sobre meus processos naquela comarca.... Imediatamente, fui no dia seguinte com padre Inaldo na comarca de Cantanhede, tomei ciência da decisão e agravei. Dia 18 de julho foi concedido efeito suspensivo através do agravo aquela decisão que reintegrava a posse em favor dos fazendeiros... Pois bem, hoje, quando chegava naquela comarca, para realização de audiência preliminar, o fazendeiro Edmilson Pontes de Araujo esbravejava na porta do fórum de que ' era um absurdo gente de fora trazer problema para o povoado, que era uma vergonha criar quilombo onde nunca teve nada disso( se referindo a mim, ao Inaldo e ao agente da CPT Marti Micha, alemão naturalizado brasileiro).... E por isso que a gente tem que passar o fogo de vez em quando, que nem fizeram com a irma Doroty!'
Camaradas, a CPT Maranhao tem enfrentado de tudo: duas vezes foi arrombada, onde levaram documentos e HDs, ligações ameaçadoras e agora mais esta ameaça contra três agentes pastorais.
Peço aos companheiros que possam espalhar essa mensagem por suas listas, porque eu, Diogo Cabral, advogado da CPT e padre Inaldo, coordenador tememos por nossas vidas! Mas apesar das ameaças, nao recuaremos um milímetro!!!
Diogo Cabral advogado da CPT Maranhão
Fonte: Conversa Afiada
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AVC pode afetar 20% de falcêmicos

Os mutirões realizados pelo Hemocentro de Alagoas (Hemoal) detectaram que 20% dos falcêmicos examinados correm risco de contrair um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Um número que preocupa a direção do órgão, já que o índice é o dobro da média nacional, que corresponde a 11%.
Realidade que é consequência da grande miscigenação da população alagoana, segundo destaca a diretora do órgão, Verônica Guedes. Mas ela assegura que as crianças e adolescentes detectadas com grande risco de contrair AVC, passarão a dispor de um tratamento especial no Hemoal.
"Todos os falcêmicos já são atendidos normalmente na Hemorrede Pública de Alagoas, mas aqueles que têm esse grande risco de desenvolverem um Acidente Vascular Cerebral receberão atenção especial. Além de uma medicação específica e do atendimento multidisciplinar, eles passarão por um regime rigoroso de hipertransfusão", informou Verônica Guedes.
Constatação - Realidade verificada pelo pequeno Leandro Kauê Nascimento, 5 anos, que reside em Anadia, foi submetido ao Doppler Transcraniano e se detectou a probabilidade de vir a sofrer um AVC. Durante o exame, realizado pelo médico do Hospital das Clínicas de Salvador, Camilo Vieira, os pais foram orientados a como cuidar dele, além de submetê-lo a um acompanhamento odontológico e psicológico.
"Quando detectamos que ele possuía Anemia Falciforme ele tinha apenas sete meses, sempre estava com febre e chorava demais. Desde então ele passou a se tratar no Ambulatório de Hematologia do Hemoal, recebendo todo o cuidado necessário, que o faz levar uma vida normal. Saber que ele corre risco de sofrer um AVC nos deixa preocupados, mas sabemos que agora ele terá uma atenção ainda mais especial por parte da equipe multidisciplinar que o acompanha", ressaltou a dona de casa Célia do Nascimento, mãe do pequeno Kauê.
A doença - A Anemia Falciforme é uma doença hereditária, que leva a uma deformação das hemácias (glóbulos vermelhos), os levando a se desenvolver em forma de foice. Por esta razão, as células tornam-se rígidas ou endurecidas e tendem a formar grupos que podem fechar os pequenos vasos sanguíneos, dificultando a circulação do sangue. Como há vasos sanguíneos em todas as partes do corpo, pode ocorrer lesão em qualquer órgão, como o cérebro, pulmões, rins e outros.
Essa condição é mais comum em indivíduos da raça negra, daí porque, em países da África, os portadores assintomáticos são mais de 20% da população, enquanto que no Brasil o índice atinge 8% dos negros. Mas, devido à intensa miscigenação ocorrida no País, a Anemia Falciforme pode ser observada também em pessoas de raça branca ou parda, os chamados afrodescendentes.
A detecção é feita através do exame eletroforese de hemoglobina ou exame de DNA, e nos casais portadores do traço falciforme, há um risco de 25% para que os filhos venham a ser portadores da Anemia Falciforme. Daí porque, é indicado o aconselhamento genético antes do planejamento de filhos e a realização do teste do pezinho, realizado gratuitamente, antes do bebê receber alta da maternidade.

Fonte: Alagoas 24 horas
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Dia do Massacre da Candelária


 
   
  O corpo de um dos meninos assassinados  
  1993 - Dia do Massacre da Candelária  
  Seis PMs à paisana, agindo como grupo de extermínio, matam a tiros 7 meninos de rua que dormem em frente à Igreja da Candelária, Rio. Outras crianças testemunham o massacre, que tem ampla repercussão.

Artista instala imagem de "Nossa Senhora do Crack" em São Paulo

por: GIBA BERGAMIM JR.

À frente de um fundo azul, a imagem de Virgem Maria feita de gesso tem adornos dourados. A escultura, que seria muito comum dentro de uma igreja, está numa espécie de altar instalado na região da cracolândia (centro). A nova santa da cidade é a "Nossa Senhora do Crack".


A espécie de padroeira dos viciados foi montada ontem pelo fotógrafo e artista plástico Zarella Neto, 33, na rua Apa, em Santa Cecília.
Assim que a santa foi colocada, viciados pegaram seus cachimbos e começaram a usar a droga ali mesmo.

Apu Gomes/Folhapress   
Obra do artista plástico Zarella Neto, que utiliza imagem de Nossa Senhora na rua Apa, na cracolândia, em SP Apu Gomes/Folhapress
Se o fundador da doutrina comunista, o alemão Karl Marx, costumava reproduzir a frase "religião é o ópio do povo", Neto juntou droga e fé no mesmo contexto artístico.
"Resolvi democratizar a santa. Ninguém enxerga essas pessoas. Elas merecem proteção. Sou cristão e a santa é do povo", disse Neto, que nasceu e cresceu no bairro.
A fachada de uma casa abandonada foi o ponto escolhido para a obra, bem em frente à calçada onde viciados se juntam todos os dias.
Para iluminar a inscrição dourada com o nome da santa, Neto puxou a energia elétrica do imóvel onde funciona seu estúdio, perto dali.
Na tarde de ontem, moradores e trabalhadores da região paravam para olhar a obra. "Achei bonito, mas batizar a santa assim é um pecado", afirmou o serralheiro Ednaldo da Silva, 30.
O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, elogiou a iniciativa e disse que não existe profanação na obra.
"Vi e fiquei comovido. O drama dos dependentes químicos não pode nos deixar indiferentes. São humanos, são irmãos, são filhos de Deus. Nossa Senhora do Crack, rogai por eles e por nós também!", disse Scherer.
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Olhares da rua

Rafaela Tasca
do Rio de Janeiro (RJ)

“Qual é o seu sonho?”. Se extraída de uma conversa qualquer poderia ser somente uma pergunta, mas nas mãos de um artista esta interrogação pode suscitar outros questionamentos e modos de ver a vida, a cidade e a própria arte.
Foi assim, com olhos voltados para as ruas, que o artista Rubens Pileggi Sá perguntou do sonho para aqueles cidadãos que aparentemente perderam tudo, até o direito de sonhar. Surgia Cromo Sapiens: mais um projeto do artista relacionando arte, vida, estratégias de visibilidade e ativismo. O projeto teve início em 2009, a partir de 30 entrevistas com andarilhos e moradores de rua que transitam pelo centro fluminense, Lapa e Largo da Carioca. Nestas entrevistas, registradas em vídeo e fotos, as perguntas giraram em torno de lembranças e sonhos na vida.
“Com esse material em mãos, desenvolvi o protótipo de um álbum de figurinhas intitulado Nowhereman, onde as páginas do álbum são ilustradas com detalhes de apartamentos e moradias, preços de imóveis e espaços culturais e de lazer do centro da cidade. E as figurinhas a serem coladas nessas páginas são as fotos das pessoas entrevistadas. Da experiência com esse álbum foram surgindo outros trabalhos e peças artísticas que, no conjunto, formam a exposição que dei o nome de Só sonha quem dorme”, explica o artista.
De temática sobre a questão do acesso à moradia nas grandes cidades, Nowhereman assume o formato clássico de um álbum de figurinhas. Contém 27 páginas impressas com lugares, equipamentos urbanos e anúncios publicitários de venda e aluguel de apartamentos do centro da cidade do Rio de Janeiro, a serem preenchidas com exatas 42 fotografias de moradores de rua. A cada retratado é dada a referência de nome, idade, procedência, tempo como morador, dia e local da entrevista. Em alguns casos, são acrescentadas às legendas frases retiradas das incursões linguísticas que aparecem nas entrevistas e que auxiliam na construção do universo poético, mítico e urbano do projeto.
É assim com a expressão-título da mostra Só sonha quem dorme, cunhada por Cícero Soares. Ou com a reflexão de Luiz Carlos Marques da Silva, “No fundo do poço, 3 mil metros abaixo, a gente não ‘veve’, a gente vegeta”. Ou ainda, com Clara Nunes Pereira dos Santos, a senhora da videoinstalação Olhos roubados que aparece na capa dos envelopes de Nowhereman. Ao descrever sua procedência, Clara aponta o dedo para o alto e diz que vem do “Estado do Céu” e declama “Esses olhos são roubados. É azul. É de uma mulher que trabalha ali. Por isso que eu não posso trabalhar.”

Invisíveis funcionais”
Para o artista, o álbum tem a intenção de promover uma espécie de reforma urbana simbólica. “Oferecer um espaço de visibilidade a ‘invisíveis funcionais’ que, por sua própria condição miserável, não contam nas estatísticas senão como problema. Que não são vistos senão como lixo, incomodando, impedindo a passagem, sujando a cidade.”, escreve Pileggi Sá na apresentação de sua proposta.
Desde seu lançamento, Nowhereman encenou discussões, críticas, apoios e leituras bastante sensíveis. Como o depoimento dado pela artista Juliana Kase no blog de Cromo Sapiens. “Quando Rubens propõe a tarefa de colar as figurinhas, o espectador deve empregar um certo tempo para realizá-la e, consequentemente, ler as sucintas informações das legendas. É aí, na legenda, que para mim está o ponto fundamental do trabalho. Enquanto muitos artistas intentaram dar visibilidade à população de rua, Nowhereman resgata os nomes desses desconhecidos. Penso que o reconhecimento dessas pessoas como indivíduos, a sua singularidade, é mais eficaz que mantê-los apenas como uma massa indiferenciada.”, escreve Kase.

Inserções ideológicas
Embora utilize um formato tradicional de colecionismo, a tática de Nowhereman atua em uma vertente de contra-informação, realizando representações sociais às avessas dos ideários de heróis, celebridades e objetos veneráveis do consumo, comumente utilizadas nestes álbuns de figurinhas.
Esta experiência de Nowhereman se relaciona a duas importantes situações brasileiras históricas. A primeira absorve a forma utilizada por um fenômeno editorial brasileiro recente, ocorrido durante a Copa de 2010, quando o conglomerado multinacional Panini lançou um álbum de figurinhas com os jogadores das seleções participantes da competição mundial. Posto que o futebol é febre nacional, as figurinhas igualmente assim foram. A segunda é que a ousadia de Nowhereman sedimenta um trabalho de arte que opera na fusão de mercadoria e arte, com ênfase na distribuição de um objeto artístico que evoca a participação ativa do espectador, condição essencial para o projeto se completar. Deste modo, o artista cria, por meio de um impresso industrial de reprodução e circulação massiva, uma estratégia de visibilidade que usa da noção de circuito e compartilhamento de informações para dar materialidade e sentido a seu trabalho.
Esta proposição artística de Pileggi Sá segue moldes adotados por outros artistas brasileiros. A exemplo de Cildo Meireles, artista referência nestas práticas, com trabalhos como Inserções em Circuitos Ideológicos I – Projeto Coca-Cola, exposto pela primeira vez na Mostra Information no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em 1970. A proposta de Cildo consistia em propor ao público a ação de imprimir mensagens nas garrafas retornáveis de Coca-Cola e a devolução ao fabricante. Na ocasião da exposição Information, Cildo adesivou a frase “Yankees, Go Home” em uma garrafa do refrigerante.
Em outro projeto de Inserções em Circuitos Ideológicos II - Projeto Cédula (1970), Cildo utilizou a serigrafia ou o carimbo de frases em cédulas de dinheiro como “Quem matou Herzog?” ou instruções de ação como “gravar informações e opiniões criticas nas cédulas e devolvê-las à circulação”. Propostas de uma arte de vanguarda que se lançava a criar ruídos no campo ordinário da circulação das mercadorias; além de questionar o lugar adequado para a exposição de um trabalho artístico.
Longe dos cânones mais tradicionais da obra de arte e de suas formas expositivas, circunscritas aos espaços consentidos e consagrados dos museus e galerias, Pileggi Sá também articula ações artísticas em diversos espaços e suportes. E organiza um aparato de distribuição para Nowhereman possível de ser adquirido em localidades da capital fluminense ou solicitados por email, através de seu blog.
Muito além da esfera do colecionismo e do jogo interativo aberto à participação de todos, Nowhereman segue pelo tenso curto-circuito das fronteiras entre arte, vida e proposição política. É livro-objeto sagaz que ao expor os “cães sem plumas” da cidade adere arte ao mundo, sem cair na estetização da pobreza.

Para entender
Em uma livre tradução dos nomes criados pelo projeto para os títulos, Nowhereman poderia ser traduzido como “homem de nenhum lugar” ou “homem do aqui e agora”; Cromo Sapiens algo como “Fotos com Sabedoria” ou “Figura Inteligente”. “É que em um mundo onde tudo se transforma em imagem, depois do Homo Sapiens vem o Cromo Sapiens. E Nowhereman surge no sentido de que essas pessoas retratadas no álbum continuam excluídas da globalização”, pondera o artista sobre a criação dos títulos.

Onde adquirir o álbum:
No Rio de Janeiro
Atelier DEZENOVE
Travessa do Oriente, 16A – Santa Teresa
Telefone: (21) 2232-6572
MUSEU DO MUNDO
Rua Visconde de Pirajá, 111 – Ipanema
Telefone: (21) 7207-0326

Outros Estados
Telefone: (21) 2135-6928 / (21) 7207-0326


“Nós educamos os filhos para que eles usem drogas”


Em entrevista, o psiquiatra Içami Tiba redefine os papéis de pais e de educadores e alerta para os perigos da “cultura do prazer”

Camila de Lira, iG São Paulo
Uma pergunta que nunca sai – ou ao menos nunca deveria sair – da cabeça de pais e professores é “como educar as crianças de verdade?”. Autor de livros como “Adolescentes: quem ama educa!” e “Disciplina: Limite na Medida Certa” (ambos da Editora Integrare), o psiquiatra Içami Tiba responde esta e outras questões relacionadas à educação em seu novo livro, “Pais e Educadores de Alta Performance” (Editora Integrare).

Içami Tiba: "os pais devem exigir que seus filhos façam o que é necessário"
Com 43 anos de experiência em consultório, Içami alerta os pais para os perigos da cultura do prazer. “Nós educamos os filhos para que eles usem drogas”, comenta, avaliando a atitude de pais que oferecem tudo sem exigir responsabilidade em troca. Para ele, a família é a principal responsável pela formação dos valores e não deve jogar esse papel para a escola. Mas as escolas, por terem um programa educacional organizado, podem guiar os pais. Leia a entrevista com o autor.
iG: Qual a responsabilidade dos pais e qual a dos educadores na educação das crianças?
Içami Tiba:
A família continua sendo a principal responsável pela educação de valores, mas é importante que haja uma parceria na educação pedagógica. As crianças viraram batatas quentes: os pais as jogam na mão dos professores, os professores devolvem. Pais precisam ser parceiros dos professores. Quem tem que liderar a parceria, no começo, é a escola, pois tem um programa mais organizado. Com a parceria, ambos ficam fortes. Os pais ficam mais fortes quando orientados pela escola.
iG: O que é mais importante na educação de uma criança?
Içami Tiba:
É exigir que ela faça o que é necessário. Os pais dão tudo e depois castigam os filhos porque estes fazem coisas erradas. Mas não é culpa dos filhos. Afinal, eles não querem estudar porque estudar é uma coisa chata, mas alguma vez ele fez algo que é chato em casa? No final, a criança estica na escola aquilo que aprendeu em casa. A educação é um projeto de formar uma pessoa com independência financeira, autonomia comportamental e responsabilidade social.
iG: Como os pais podem educar bem seus filhos? Qual o segredo?
Içami Tiba:
Um pai de verdade é aquele que aplica em casa a cidadania familiar. Ou seja, ninguém em casa pode fazer aquilo que não se pode fazer na sociedade. Os pais devem começar a fazer em casa o que se faz fora dela. E, para aprender, as crianças precisam fazer, não adianta só ouvir. Elas estão cansadas de ouvir. Muitas vezes nem prestam atenção na hora da bronca, não há educação nesse momento. É preciso impor a obrigação de que o filho faça, isso cria a noção de que ele tem que participar da vida comunitária chamada família.
iG: No livro, o senhor comenta que uma das frases mais prejudiciais para se falar para um adolescente é o “faça o que te dá prazer”. Por quê?
Içami Tiba:
O problema é que essa frase passa apenas o critério de prazer e não o de responsabilidade. Nós queremos que nossos filhos tenham prazer sem responsabilidade. Por isso eles são irresponsáveis na busca deste prazer. E o que é uma droga, senão uma maneira fácil de se ganhar prazer? A pessoa não precisa fazer nada, apenas ingeri-la. Nós educamos os filhos para que eles usem drogas. Se ele tiver que preservar a saúde dele, pensa duas vezes.

iG: Por que você acha que alguns pais não ensinam os filhos a ter responsabilidade?
Içami Tiba: Não ensinam porque não aprenderam. Estes pais querem ser amigos dos filhos e isso não faz sentido. Provedor não é amigo.

iG: Por que o pai não pode ser só amigo ou só provedor?
Içami Tiba:
Não pode ser amigo porque pai não é uma função que se escolhe, e amigos você pode escolher. O filho é filho do pai e tem que honrar os compromissos estabelecidos com ele. Um filho não pode trocar de pai assim como troca de amigo, por exemplo. Por outro lado, o pai que é unicamente provedor, como eram os de antigamente, também não dá uma educação saudável ao filho, afinal ele apenas dá e não cobra. Pai não pode dar tudo e não controlar a vida do filho. Quando digo controle, quero dizer que o pai deve fazer com que o filho corresponda às expectativas, que o filho faça o que precisa ser feito. Um filho não pode deixar de escovar os dentes ou de estudar e o pai não pode deixar isso passar.
iG: Como a meritocracia pode ajudar na criação?
Içami Tiba:
O mundo é meritocrata, os pais se esqueceram disso. Ganha-se destaque por alguma coisa que a pessoa fez; se não mereceu, logo o destaque se perde. Dar a mesma coisa para o filho que acertou e para o que errou não é bom para nenhum dos dois. É preciso ser justo. Os pais precisam aprender a educar, não dá para continuar achando que apenas porque são bonzinhos vão ser bons pais. Não adianta muito um cirurgião apenas amar seu paciente; para fazer uma boa cirurgia é preciso ter técnica. É a mesma coisa com os pais.
iG: Amor e educação combinam com disciplina?
Içami Tiba:
Disciplina é a coisa que mais combina com a educação. É uma competência que você desenvolve para atingir o objetivo que quer. Se você ama alguém, tem que ter disciplina. Os pais precisam fazer com que os filhos entendam que eles têm que cumprir sua parte para usufruir o amor. Os pais precisam exigir.
iG: Como exigir sem agressividade?
Içami Tiba:
O exigir é muito mais acompanhar os limites, aquilo que o filho é capaz de fazer. Não dá para exigir que ele vá pendurar roupas no armário se ele não pode arrumar uma gaveta. Por outro lado, os pais não podem fazer pelos filhos o que eles são capazes de fazer sozinhos. A partir daí, quando se cria uma segurança, a exigência começa a fazer parte da convivência. Essa exigência é boa. O pai não pode sustentar e não receber um retorno. É como se ele comprasse uma mercadoria e não a recebesse.
iG: No livro, o senhor diz que todos somos educadores. Como podemos nos portar para educar direito as outras pessoas?
Içami Tiba:
Você quer educar? Seja educado. E ser educado não é falar “licença” e “obrigado”. Ser educado é ser ético, progressivo, competente e feliz.
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Prefeito de BH, Marcio Lacerda, Quer Acabar com o Duelo de MCs


Prezados amigos e parceiros,
Como
é do conhecimento de vocês, há quatro anos o Coletivo Família de Rua
realiza o Duelo de MC’s embaixo do Viaduto Santa Tereza, no Centro de
BH.


Desde
a primeira edição do Duelo, até hoje, diversas vezes a Família de Rua
solicitou junto ao poder público de Belo Horizonte a parceria para
melhorias e soluções estruturais de organização e segurança no espaço
que considerem o contexto do Duelo de MCs. Mesmo depois de realizar
várias reuniões e firmar diferentes acordos com as instituições
responsáveis pela gestão da cidade, as demandas não foram atendidas.

 
No
último dia 29 de junho a Família de Rua foi convocada para uma reunião
junto à Regional Centro-Sul e a Polícia Militar de Minas Gerais. Nesta
reunião foi solicitada a imediata suspensão do Duelo de MCs e ainda
uma possível transferência do encontro para um local fechado ou outros
espaços de Belo Horizonte. A alegação foi de que o espaço embaixo do
viaduto Santa Tereza não comporta mais o público crescente.

 
No
entanto, o Duelo de MCs acontece há quatro anos sob o Viaduto, no
centro de Belo Horizonte, foram mais de 190 edições neste espaço que é
legitimado e reconhecido pela cidade, por suas instituições, grupos
culturais, imprensa e população.

 
Acreditando
na manutenção do Duelo no espaço onde ele sempre foi realizado, a
Família de Rua não concordou com sua suspensão, decidiu mantê-lo em
funcionamento e propôs, novamente, uma articulação em torno da melhoria
das condições para realização do encontro.

 
Diante
disso, solicitamos a manifestação de seu apoio ao Duelo de MC’s, de
forma a contribuir para atendimento das demandas apresentadas pela
Família de Rua e consequente manutenção da realização periódica do
Duelo.

 
* Favor preencher, imprimir e assinar a carta. A Família de Rua se responsabiliza por buscar o documento em mãos.

Desde já agradecemos o apoio e a atenção dispensada.
Atenciosamente,
Família de Rua.


Comissão Baleeira Internacional discute ameaça do lixo plástico nos oceanos

DA FRANCE PRESSE, EM JERSEY 

O lixo plástico na superfície dos oceanos é uma ameaça mortal para as baleias e os golfinhos. Este assunto, porém, ainda não foi explorado pela ciência, diz um estudo a ser apresentado na reunião da CBI (Comissão Baleeira Internacional), que começa nesta segunda-feira na ilha britânica de Jersey.
Em 2008, 134 tipos de redes diferentes foram encontrados nos estômagos de duas cachalotes que encalharam no litoral da Califórnia, Estados Unidos, e que provavelmente morreram de oclusão intestinal. Em 1999, na cidade de Biscarrosse (sudoeste da França), uma baleia de Cuvier encalhou com 33 kg de plástico no corpo.
Os cetáceos, como as tartarugas e os pássaros, têm grande dificuldade de digerir esses dejetos, cada vez mais numerosos, indica o estudo apresentado ao comitê científico da comissão visando à reunião de Jersey.
"A ameaça dos dejetos de plástico para inúmeros animais marinhos foi estabelecida há tempos, mas a ameaça para as baleias e os golfinhos é menos clara", considera o autor, Mark Simmonds, cientista-chefe da WDCS (Sociedade para a Conservação dos Golfinhos e Baleias), uma ONG britânica. "Mas já foi estabelecido que esses dejetos podem causar dano aos animais, seja porque os ingerem ou porque ficam enredados neles."
O PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) destacou em fevereiro, em seu informe de 2011, a forma com que milhões de dejetos plásticos ameaçam os litorais devido à utilização cada vez mais importante do plástico e de taxas de reciclagem ainda fracas.
A WDCS é favorável à assinatura pela CBI do Compromisso de Honolulu, um pedido internacional lançado em março no Havaí para incentivar os governos, associações e cidadãos a agir para reduzir os dejetos marinhos.
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Conheça e não confunda a linguagem da web, o internetês

Abreviar as palavras nas mensagens instantâneas da web pode ser uma forma de a língua portuguesa evoluir, mas também um jeito fácil de criar mal-entendidos

Você faz parte da turma que escreve axXiMm? Ou insiste no uso padrão da língua em qualquer ambiente? Acredite: o chamado internetês é importante para o desenvolvimento da linguagem. Quem afirma são cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá.

O jeito de falar tão próprio da internet permite uma mistura saudável entre o formal e coloquial. Isso, segundo os pesquisadores Sali Tagliamonte e Derek Denis, representa um “novo e expansivo renascimento linguístico”. Foram analisadas mais de 1 milhão de palavras em mensagens instantâneas e cerca de 250 mil faladas por 72 pessoas com idade entre 15 e 20 anos.

O resultado é de que a habilidade de se comunicar no mundo virtual mostra uma nova forma de utilizar o idioma. Mas sem sustos! O pesquisador Derek Denis disse à revista NewScientist que a mensagem instantânea é um discurso interativo entre amigos conduzido por linguagem coloquial, mas ao mesmo tempo é uma interação escrita que tende a ser mais formal que a fala. Então, é possível manter o equilíbrio. Mesmo com o intenso uso de gírias, a gramática e o vocabulário escrito são relativamente conservadores, ao misturar as duas formas de comunicação.

Contudo, há quem discorde e levante a bandeira do português impecável. Os usuários mais tradicionais ainda não admitem toda essa modernidade na língua materna. E mais: acreditam que o internetês pode prejudicar o diálogo oral e escrito das gerações de internautas. A professora de língua portuguesa Scheyla Alves tem dificuldade de entender as gírias virtuais dos jovens. Para ela, o texto precisa ser rápido por exigência do suporte, mas, como qualquer variante textual, a ambiguidade pode ocorrer. “O duplo sentido deve ser evitado em qualquer situação. Mas a internet intensifica a possibilidade. A falta de pontos finais, por exemplo, pode dar uma baita confusão”, explica.

As abreviações — vc, kd, tb — e as transcrições fonéticas como o “naum” em vez de “não” fazem parte de um conjunto de condições para dar rapidez e toques de oralidade ao diálogo virtual. Scheyla defende que o falante tem que ser multilíngue na sua própria língua e o internetês veio para acrescentar. Ainda assim, diz, para ter sucesso na comunicação, é preciso reconhecer o interlocutor e a finalidade da fala. E admite: “Não é falar errado. É falar diferente. É inteligência linguística.”

No fim, cada um assume uma postura a respeito da melhor maneira de escrever na web. O jeito é aguentar as consequências — boas ou ruins. O fato é que cada vez mais o mundo virtual adota características muito próprias, como o linguajar direto e abreviado. Mas cuidado! É fácil cair em mal-entendidos nas conversas entre telas. Entretanto, a professora acredita que os próprios usuários resolverão o problema no futuro. Ofender o outro sem intenção, por exemplo, fará com que eles mesmos criem um mecanismo de se adequarem, como a usar a caixa alta para gritar ou chamar a atenção.


Correio Braziliense